
Apesar do curso universitário e de duas pós-graduações, foi na construção que o profissional encontrou emprego. Histórias assim são cada vez mais comuns.
Quando Marcelo Oliveira Rezende, 36 anos, deixou escapar uma expressão em latim no canteiro de obras onde trabalhava como servente de pedreiro, causou desconforto entre os colegas. Estranheza maior, porém, vivenciou o próprio Marcelo que, com graduação em Filosofia e Teologia, duas pós-graduações e um currículo que inclui apresentação de artigos escritos por ele em congressos religiosos, acabou se profissionalizando na construção civil por adversidades da vida.
A história, que chama atenção pelo desencontro entre capacidade intelectual e vida profissional, não é única. Recentemente, no Rio de Janeiro, a inscrição de candidatos com mestrado e doutorado em um concurso de garis ganhou destaque na imprensa nacional pela mesma incompatibilidade. No caso do teólogo que realizou seus estudos no seminário católico, é especializado em Filosofia e História Antiga e Medieval e tem formação para traduzir 12 línguas antigas - entre elas latim, grego e hebraico, o sonho de se tornar cardeal foi destruído depois de quase 20 anos de estudos.
Por discordar de alguns dogmas do catolicismo, ele acabou saindo da instituição. Criado pelos tios que o colocaram no seminário aos 9 anos, Rezende estudou um tempo no Rio de Janeiro, onde nasceu, transferindo-se para Londrina acompanhando a família. Quando deixou o seminário, passou a morar ‘‘de favor’’ na casa de amigos. ‘‘Eu tinha que trabalhar para ganhar dinheiro e pagar minha estadia. A única oportunidade que apareceu foi servente de pedreiro. Sem outra coisa para fazer, acabei aceitando’’, disse ele, que atualmente ganha a vida como pintor autônomo e também restaura móveis antigos. ‘‘Na época, percebi que o serviço de pintura era mais leve, mais rápido e possibilitava ganhos maiores. Procurei uma oportunidade nessa área e trabalho com isso até hoje’’. Sobre o choque cultural sofrido no período em que saiu do seminário e passou a trabalhar no canteiro de obras, ele afirma que a consequência foi uma enorme frustração. ‘‘Com toda a capacidade intelectual que eu tinha na época, passei a cavar valetas e carregar concreto’’, exemplificou. Onze anos depois do acontecido, Rezende, hoje, aceita bem a nova vida e garante que até gosta do trabalho. ‘‘Aprendi a falar a língua dos peões e tenho excelentes amigos no setor da construção. Até penso em dar aulas numa universidade, mas não pretendo largar a pintura porque é uma atividade que dá mais dinheiro que a vida acadêmica’’, explicou. O ex-seminarista está casado e, além dos serviços de pintura e restauração de mobília, dá aulas de Filosofia para alunos carentes de um cursinho pré-vestibular gratuito, de forma voluntária. Apesar de utilizar parte da extensa qualificação que possui nessa atividade, ele não deixa de experimentar a frustração em alguns momentos de reflexão sobre a vida profissional. ‘‘Às vezes me dá um vazio difícil de explicar. Sinto-me um teólogo silenciado.’’
Realmente, viver no Brasil como teólogo é quase impossível... ou se vive como professor com uma boa carga horária ou faz-se teologia nas horas vagas... Poucas igrejas apóiam a tarefa do teólogo e nas igrejas evangélicas é ainda mais raro... Aliás quantas igrejas contam em seus quadros com algum membro que tenha o cargo na instituição de teólogo? Ou se é Pastor ou Professor de escola bíblica, mas teólogo? Já senti até uma certa discriminação com o título de teólogo, quando intitulei-me assim... Acho muito estranho que a maioria dos seminários e faculdades de teologia colocam a ênfase na formação pastoral, isto é todos saem pastores, quase ninguém opta por seguir como teólogo...
ResponderExcluirUm grande abraço João.
Ola João, esse relato é digno do nosso Brasil, pais que não apóia os bons, aqui só tem mídia para bandido. E, as igrejas estão seguindo a mesma coisa dos políticos, pastores medíocres, não contratam pessoas capacitadas com medo de perder a santidade diante do púlpito.
ResponderExcluirAi a resposta está nesse dilema monstruoso. A morte em vida de uma pessoa capacitada com tanto para repassar, e Deus deixa isso acontecer somente para cobrar no final com juros destes que foram escolhidos para amar o seu rebanho. Cada dia sinto que Jesus esta próximo de vim. Não falta ver mas nada neste mundo
abraço
ps sigo seu blog
se quiser fazer uma visita ao nosso, fique a vontade ok?
paz meu irmao
Amigo Joao,
ResponderExcluirquero agradecer a sua assinatura no nosso blog.
estamos honrado com sua presença.
obrigado
Realmente a vida nós trás surpresas, eu conheço o Marcelo de vista quando cursava faculdade, não sabia desta situação. Mas a partir desta leitura já vejo ele como exemplo de vida, vou o chamar para jogar xadrez a próxima vez que encontrar com ele.
ResponderExcluirComo a "vida" é! vi seu comentário no blog de um amigo (teologo.org) e vi dar uma olhada no seu e me deparo com essa história. Hj estava lamentando e chorando um pouco justamente por estar vivenciando algo bem parecido com a história do Marcelo...gastei um bom tempo da vida estudando teologia, hebraico, grego...e até dei aulas em um seminário (algo q ainda faço hj como voluntário em um outro), mas devido as idéias neopentecostais, ele foi "deixado de lado" e fechou o ano passado - ano o qual fiquei desempregado. As vezes me sinto meio como q enganado, não sei...deve ser essa frustração q o Marcelo coloca..no meu caso estou casado, fazendo faculdade de filosofia - acreditando q na rede pblica serei mais feliz por sustentar minha casa fazendo o q gosto, mas é lamentável essa nossa situação...enfim, por me identificar com a história, usei seu espaço para desabafar um pouco...q Deus tenha misericordia do Brasil...
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